Fabio Campos escreve no jornal o POVO: À espera do legado

Seg, 09 de Junho de 2014 10:10



E a ampliação do aeroporto? Que lástima. É outra com contrato encerrado. Foi um legado do novo modelo de "licitação", o tal de Regime Diferenciado de Contratação.

Fortaleza está pronta para a Copa do Mundo? Considerando que os jogos precisam prioritariamente de um bom estádio de futebol para acontecer, a resposta é sim. O Castelão está aí, pronto e acabado para receber as seleções. Mas, teremos a cidade que foi planejada  para a Copa? Longe, muito longe, disso. 

 

A cidade chegará ao dia do primeiro jogo com praticamente todos os projetos inacabados. O conjunto viário, mais importante legado da Copa, está incompleto. A sonhada Via Expressa sem cruzamentos, entrecortada por túneis e viadutos, vai para um futuro incerto.


O viaduto previsto para acabar com o perigoso e engarrafado cruzamento da Raul Barbosa com Murilo Borges, nem sequer saiu do papel. Por lá, apenas a demolição de uma edificação que foi desapropriada. Não se sabe ao certo quando as obras serão iniciadas. Pelo visto, saiu da agenda.


E o Veículo Leve sobre Trilhos? Bom, essa obra ganhou conotações bastante complexas. Era ela a única obra viária sob a responsabilidade do Estado dentro do PAC Copa. O contrato com as empreiteiras foi encerrado. Até aqui, não há nova previsão para entregá-la ao distinto público.


O VLT, com todos os seus problemas, incluindo as desapropriações e a construção de novas casas para os desapropriados, vai ficar de herança para o próximo governante. Caso haja erros de projeto no que até aqui foi construído em diversos pontos diferentes, será uma herança maldita.


E a ampliação do aeroporto? Que lástima. É outra com contrato encerrado. Foi um legado do novo modelo de “licitação”, o tal de Regime Diferenciado de Contratação. Escrevam: não teremos aeroporto ampliado nos próximos dois anos e o puxadinho milionário será desmontado em dois meses.


Mesmo quando todas essas importantes obras forem finalizadas, continuaremos morando numa cidade com problemas medievais. Não devemos nos cansar de dizer: mais da metade dos domicílios de Fortaleza não é ligada ao sistema de esgotos. Esse tema está completamente fora da pauta política do Ceará.

 

DIAS DECISIVOS
Pelo rumo dos acontecimentos, a eleição presidencial e a sucessão para o Governo do Ceará serão decididas em dois turnos. Os blocões que garantiam a hegemonia do petismo (no âmbito nacional) e do grupo do governador Cid Gomes (no âmbito cearense) se dissolveram e vão se dividir em candidaturas aos Executivos. A partir de terça-feira, dia 10, começa o prazo para a realização das convenções partidárias. É quando o jogo começa a ser jogado. É a partir das convenções que o distinto público vai saber o tamanho da força de cada coligação.

 

PSD DE KASSAB
No Ceará, a candidatura oriunda do grupo político do governador Cid Gomes prevê uma coligação formada por nada mais, nada menos que inacreditáveis 22 partidos. Entre eles, o PSD que é comandado em âmbito nacional pelo ex-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. Entre todos os nanicos, a sigla é a mais bem nutrida de tempo no horário eleitoral gratuito. Mas, há um senão. O senador Eunício Oliveira (PMDB) andou mantendo uma série de conversas com Kassab, que já fez consultas sobre a possibilidade de levar seu partido para o palanque do peemedebista. A preços de hoje, é esse o caminho.

 

MISTURA PAULISTA 
Vejam como as circunstâncias políticas estaduais tendem a se diferenciar do plano nacional. Em São Paulo, por exemplo, a candidatura à reeleição do tucano Geraldo Alckmin deverá ter o apoio do PSD (Kassab) e do PSB. Notem que cada um dos partidos envolvidos terá seu próprio candidato a presidente da República. O PSD deve apoiar a reeleição de Dilma Rousseff (PT), o PSDB vai de Aécio Neves e o PSB tem, é claro, o ex-governador Eduardo Campos como candidato a presidente. Ou seja, será um palanque de candidato a governador com três candidatos a presidente. 

 

JOGO PESADO
Na agenda política da próxima semana, um evento fundamental para o futuro político do País. Terça-feira (10), o PMDB realizará, em Brasília, sua convenção ordinária. O encontro acontecerá no Auditório Petrônio Portela, no Senado Federal. 512 convencionais vão aprovar ou não a coligação nacional PMDB-PT e a indicação de Michel Temer para ser candidato a vice-presidente da República. Não há fato consumado. O PMDB está em ebulição. Do Ceará, serão 62 decisivos votos, que são controlados por Eunício Oliveira. Não é à toa que o senador esteja recebendo ligações de Lula. Eunício teria arrancado do petista a promessa de, no mínimo, não fazer campanha no Ceará?

 

MENOS SAI MAIS
À boca miúda, empresários que mantêm contratos com o Governo do Ceará avaliam que a ânsia do governador Cid Gomes em baixar os preços das obras públicas acaba comprometendo a qualidade das mesmas. “Foi o que aconteceu com o VLT. O mercado sabia que o preço não era compensador para quem ia construir”, diz uma fonte. Outro empresário diz que a forma de contratação pelo menor preço não garante a qualidade da obra. “Não existe obra boa e barata. Obra barata é mal feita e com materiais ruins. Essa equação equivocada é que levou o governador a mergulhar no tanque da adutora que não funcionava”, afirma. 

 

NA MARRA
Por trás dos distúrbios de rua que atormentaram o cotidiano de Fortaleza, há um partido. É o PSTU, que controla dois sindicatos: o dos rodoviários e o dos trabalhadores da construção civil. Os sindicalistas rodoviários, numa cidade que se locomove de ônibus, facilmente conseguem parar a cidade. Já a turma da construção é conhecida pela capacidade de usar a força física na hora de parar uma obra. Na paralisação de terça-feira, as equipes de manutenção e supervisão enviadas pelas empresas aos terminais foram expulsas sob a ameaça de um pelotão de choque de motoqueiros. Grupo similar espancou um funcionário de um “valet” defronte a uma loja de cosméticos da avenida Dom Luis, que acabou saqueada.

Fonte: http://www.opovo.com.br/app/colunas/fabiocampos/2014/06/07/noticiasfabiocampos,3263310/a-espera-do-legado.shtml

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