Monique Eleb aborda avanços do Grand Paris no planejamento habitacional

Qua, 18 de Dezembro de 2013 10:18



A psicóloga e socióloga francesa Monique Eleb participou na segunda-feira, dia 16, da mesa-redonda “Habitar as Grandes Metrópoles”, na sede do IAB-RJ, no Flamengo. Ela discutiu estratégias de política habitacional do projeto de transformação da região metropolitana de Paris, conhecido como Grand Paris. Participaram das discussões os arquitetos Sérgio Magalhães, presidente do IAB e responsável pela concepção e implementação da Política Habitacional do Rio, e Pablo Benetti, pró-Reitor da UFRJ, especialista em planejamento urbano e regional. Os dois fizeram um paralelo com a realidade carioca.

 

De acordo com Monique Eleb, uma das preocupações do projeto Grand Paris, que abrange a capital francesa e 124 municípios dos departamentos em torno de Paris, é lidar com as assimetrias existentes da região metropolitana e promover a interação social entre os diversos perfis habitacionais que vivem nos “anéis” da Grande Paris.

"Um dos grandes avanços já alcançados foi a aprovação de uma lei, por volta dos anos 2000, que obrigou os municípios a destinar 20% das novas unidades habitacionais à população de baixa renda", afirmou Monique Eleb.

A socióloga, uma das maiores especialistas em habitação na França, também explicou que o governo instituiu outras diretrizes para promover maior interação entre as diversas classes sociais e facilitar o acesso à casa aos mais carentes:

"Hoje, o cidadão pode adquirir sua nova casa através da tradicional transação de compra e venda ou utilizar um dos três tipos de aluguel social para bancar os custos da habitação. Essa integração também se dá por meio da multifuncionalidade de usos nas quadras e nos edifícios."

O debate seguiu com uma comparação entre a Grande Paris e a Região Metropolitana do Rio. O arquiteto Sérgio Magalhães, presidente do IAB Nacional, explicou ainda que, se em Paris há dois modelos de cidade (Grande Paris e Pequena Paris), no Rio de Janeiro também há dois modelos, que se confundem espacialmente e não oferecem a clareza morfológica da capital francesa. 

Sérgio comparou a mobilidade urbana das duas metrópoles: "Enquanto as interligações entre a Grand Paris e a Petit Paris, estruturadas de forma rádio concêntricas, são eficientes, as da Região Metropolitana do Rio são precárias. Hoje, o tempo gasto no trajeto casa-trabalho é de quase duas horas no Rio”, analisou Magalhães.

Ao comparar Grand Paris com a metrópole Rio, Pablo Benetti enxergou contrastes. O arquiteto explicou que há duas formas de produção da cidade: a compacta, onde o território é pensado à exaustão, e a estendida, cuja lógica é seguida pelas cidades da América Latina, entre as quais o Rio, que é um dos maiores exemplos. 

"A área central do Rio de Janeiro concentra 40% da oferta de emprego do município, mas apenas 3% da população habita essa região. Enquanto isso, o programa do Governo Federal Minha Casa Minha Vida insiste em destinar parte expressiva de seus recursos (58%) em locais com baixa oferta de emprego e sem infraestrutura, a exemplo da AP5 (extremo oeste do Rio). Hoje, 58% dos recursos do MCMV são aplicados na AP5", criticou Pablo Benetti.

Para Benetti, a construção oficial está reafirmando um processo perverso, colocando a população em regiões com baixa oferta de emprego. Ele ainda defendeu uma distribuição das oportunidades de trabalho a fim de equalizar a oferta entre zonas da Região Metropolitana do Rio.

Já Sérgio ressaltou a importância de uma centralidade também nos empregos e sua associação com planos habitacionais. "É lógico que se deve distribuir alguma coisa (em termos de emprego), mas há centralidades indispensáveis para que a vida urbana contenha a qualidade essencial que defendemos e que devemos garantir para as próximas gerações. A cidade difusa não é capaz de oferecer isso”, alertou Sérgio Magalhães.

A mesa-redonda “Habitar as Grandes Metrópoles” integrou a programação dos "Diálogos França-Brasil", realizada pelo IAB-RJ. em parceria com o Programa de Pós-Graduação em Urbanismo (Prourb), a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (FAU-UFRJ) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes/CNPq).

Fonte:

http://www.iab.org.br/noticias/monique-eleb-aborda-avancos-do-grand-paris-no-planejamento-habitacional

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