Como um bom projeto urbano pode minimizar os efeitos das mudanças climáticas

Qua, 13 de Março de 2019 15:30



Foto: Hong Kong é uma das cidades mais populosas do mundo. Imagem via Shutterstock

 

Centros urbanos geralmente acumulam mais calor do que regiões periféricas e menos povoadas, este é um fenômeno climático mais conhecido como ilha de calor urbano (UHI). Embora este não seja um fenômeno recente, o qual vem sendo analisado por décadas, recentes descobertas indicam que a maneira como construímos nossas cidades é um dos principais fatores para o agravamento deste fenômeno histórico. Considerando isso, a descoberta destes novos dados deverá transformar decisivamente a maneira como planejamos e construímos nossas cidades no futuro.

Foto: Downtown Boston Vision. Image © SCAPE / City of Boston

Liderado por Rolan Pellenq, pesquisador do MIT e do Centro Nacional de Pesquisa Científica dos EUA, o estudo revela que cidades como Nova York, construídas a partir de uma estrutura urbana precisamente ortogonal, são muito mais quentes do que cidades com um arranjo mais orgânico, como Londres por exemplo. Abrangendo um total de 50 cidades, os pesquisadores descobriram que quanto mais ortogonal a estrutura urbana de uma cidade, mais intenso resulta o fenômeno da ilha de calor.

Acredita-se que esta nova descoberta possa transformar profundamente a maneira como planejamos nossas cidades: "Quando estivermos pensando em expandir a malha urbana de uma cidade", diz Pellenq, "evitaremos planeja-la de forma muito ortogonal, uma vez que isso resultará em um acúmulo maior de calor. Entretanto, em lugares muito frios, talvez esta seja uma ótima estratégia para manter a cidade mais quente”.

Compreender as consequências de nossas decisões formais de planejamento urbano também tem a ver com os materiais que utilizamos na construção de nossas cidades. Não é nenhuma novidade que edifícios de concreto absorvem calor durante o dia liberando-o à noite. Por exemplo, estruturas de concreto e vias asfaltadas geram muito mais calor do que uma área verde ou um parque. Considerando estas informações, esperamos avançar ainda mais em nossas pesquisas, descobrindo outros fatores que contribuem para o efeito da ilha de calor.

Além disso, os pesquisadores descobriram que, no estado da Flórida, os efeitos de ilhas de calor urbanas resultam em um consumo excessivo de sistemas de condicionamento de ar, estimado aproximadamente em um total de US$ 400 milhões anuais. De acordo com Pellenq, coisas como esta podem ser evitadas se investirmos mais em projetos urbanos mais inteligentes.

Foto: Bay Area Masterplan. Courtesy of MVRDV and HASSELL

 

 Uma cidade mal planejada, propensa aos efeitos da ilha de calor urbana, também sofrerá com o aumento nas ondas de calor, doenças relacionadas às altas temperaturas e poluição além é claro, de um consumo maior de recursos naturais e energéticos.

Segundo o Banco Mundial, dos 7,4 bilhões de pessoas que habitam nosso planeta, 4 milhões delas vivem em áreas urbanas. Em 2045, espera-se que este número chegue à incrível marca de 6 bilhões de pessoas. Para acomodar o êxodo maciço de pessoas em direção às cidades, é preciso investir em projetos urbanos mais inteligentes e sustentáveis, considerando outras importantes questões como: habitação social, transporte público e infraestrutura urbana.

Com o intuito de divulgar novas pesquisas, informações relacionadas ao planejamento urbano e promover um diálogo franco entre os gestores públicos e os arquitetos e urbanistas, a Design Indaba e a Helsinki Design Week estão organizando o "Design Commons", uma conferência inovadora que convida para uma mesa redonda todos as partes interessadas. Aqui você poderá ver tudo aquilo que está sendo discutido pelas mentes mais inovadoras, entre elas: Tiffany Chu, Marko Ahtisaari e Chris Sheldrick.

 Foto: MIT Heat Island via Design Indaba

 A pesquisa desenvolvida por Pellenq foi publicada no periódico Physical Review Letter.

Este artigo foi publicado originalmente pelo Design Indaba.

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