Artigo escrito pelo arquiteto e ex-presidente do IAB-CE, Joaquim Cartaxo, e publicado no jornal O Povo na edição do dia 12 de março de 2012
O enfoque político no processo de planejamento e gestão compreende oportunidades e desafios quanto à construção de consensos e aos procedimentos de convivência entre interesses conflitantes, próprios da dinâmica socioeconômica e cultural, que variam de lugar para lugar conforme a organização dos grupos sociais na defesa de seus interesses específicos e da sociedade em geral.
É da natureza desse enfoque constituir-se e reconstituir-se permanentemente como um campo de forças onde visões de mundo dos sujeitos políticos e sociais disputam o processo de hegemonia na sociedade.
As sociedades mais organizadas tendem a ampliar a institucionalidade de suas relações sociopolíticas; as de menor nível de organização são marcadas pelo clientelismo. Por outro lado, não há fórmula, receita ou modelo que responda à diversidade da dimensão política, não importando o nível de organização em que a sociedade se encontra.
Assim, o planejamento participativo e a gestão democrática da cidade são conquistas do aprofundamento da cidadania e não um ato de fé no povo, proclamado por autodenominados representantes da população ou, muito menos, uma ação de boa vontade – sincera ou não – do aparelho de Estado.
O envolvimento ativo da sociedade no planejamento e na gestão da cidade requer organização dos sujeitos políticos e sociais em movimentos proativos e reativos, bem como uma política de governo que aposta na democracia participativa enquanto opção estratégica de melhoria das condições de vida e equacionamento de problemas causadores de sofrimento às pessoas.
Dessa maneira, o convívio das contradições governo-comunidade funda-se no vigor da sociedade em aperfeiçoar seus padrões organizativos e de reivindicação, combinado com uma concepção e um exercício de governo em que a participação popular o fortalece, pois os destinos e os projetos da cidade passam a ser assumidos com corresponsabilidade.