Evento do IAB-RJ apresenta configuração do Centro do Rio expandida para a Zona Sul

Qua, 22 de Janeiro de 2014 13:18



"O que chamamos de Centro do Rio é um centro do passado". A afirmação é de Flávio Ferreira, um dos participantes da mesa-redonda do seminário “O Centro do Rio: ambiências e patrimônio urbano”, que aconteceu nesta terça-feira, 21 de janeiro, na sede do IAB-RJ. O evento, promovido pelo IAB-RJ e pelo Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH), reuniu especialistas, para discutir a importância de políticas de preservação do patrimônio da cidade, e técnicos da Prefeitura do Rio, que prestaram assistência técnica aos interessados em participar do Programa de Apoio à Conservação de Imóveis Privados (Pró-Apac).

O arquiteto e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro Flávio Ferreira defendeu a ampliação do atual Centro do Rio para além do modelo proposto pelo seu tombamento. A nova configuração proposta abrange os bairros de Leblon, Ipanema, Botafogo, Flamengo e outros da Zona Sul. “De 1950 a 2014, a cidade passou de dois milhões para 12 milhões de habitantes. Consequentemente, o Centro aumentou na mesma proporção. A região cresceu tanto que hoje começa na Tijuca, talvez em São Cristóvão, passa pelo Centro e vai até o Leblon”, explicou.
 
Ao falar sobre os diferentes tipos de paisagem, Ferreira diz não ter dúvidas de que é na Zona Sul da cidade que a paisagem cultural se encontra. “A paisagem cultural do Rio reconhecida internacionalmente é a da Zona Sul”, afirmou Flávio Ferreira.
 
A capital fluminense, primeira cidade a receber o título de Patrimônio Mundial como paisagem cultural urbana, está dentro de uma discussão importante na Unesco sobre a tipologia de paisagem cultural e construção de uma nova metodologia de abordagem, que é a da paisagem histórica urbana. Para Rafael Winter Ribeiro, geógrafo e um dos autores do dossiê da candidatura do Rio Patrimônio do Mundo, independentemente do sítio ou da área delimitada como Rio Patrimônio da Humanidade, a questão gera impactos para a cidade como um todo.
 
"É preciso pensar a cidade como um todo. A ideia de paisagem urbana histórica tenta dar resposta a críticas e promover uma gestão mais global. Para isso, também não basta apenas gerir o patrimônio material. Temos de ter uma discussão sobre o que são e de que se constituem as identidades dessas áreas e, por fim, pensar em uma gestão não só em torno do arquitetônico, mas das identidades e como construir essas identidades. Paisagem cultural e paisagem urbana histórica não são objetos antagônicos. São abordagens com ênfases diferenciadas, mas complementares”, justificou Rafael Winter.
 
Na opinião do presidente do IAB, Sérgio Magalhães, que também participou da mesa-redonda do seminário, o Rio precisa aproveitar o título concedido pela Unesco para construir uma política urbana de médio e longo prazo. “No Brasil, somos muito interiorizados e não valorizamos os vínculos internacionais à altura que deveríamos. Eles são úteis e podem nos ajudar a consolidar políticas mais consistentes e duradouras”, afirmou Sérgio Magalhães.
 
O presidente do IAB ainda criticou a direção dos investimentos públicos, que têm se dirigido a áreas nobres e de expansão:
 
“Há uma questão política essencial, que é a matriz colocada para nós. Temos dificuldades na preservação de bens na área central da nossa cidade. Isso decorre, em grande parte, da direção que os investimentos públicos adotaram desde os anos de 1960 e 1970, privilegiando o novo e desconhecendo a realidade construída”, defendeu Sérgio Magalhães.
 
Além da importância da manutenção do patrimônio, as iniciativas de preservação e de restauro dos imóveis tombados da cidade apresentam um potencial econômico importante, que não deve ser desconsiderado. A avaliação foi feita pelos arquitetos Ernani Freire e Ubirajara Mello, especialistas em restauração, que também apresentaram alguns de seus projetos de restauração no Centro do Rio.
 
"O Rio de Janeiro tem características especiais e uma paisagem cultural deslumbrante, que sombreia o Rio Cidade Histórica. A quantidade de edifícios passíveis de atividade de restauro também é muito grande. Daí o valor de programas como o Pró-Apacs. Sou a favor da ampliação da área central do Rio, pois temos muito mais edifícios e casas aptas a participarem de processos de requalificação. Esse é um novo mercado a ser explorado”, declarou Ernani Freire.
 
Para o arquiteto Luiz Fernando Janot, que acompanhou a atividade desta manhã na sede do IAB-RJ, fica no ar uma questão, que é quase uma indagação ou reflexão do plano, do projeto e da própria realidade. “Cabe aqui uma ampliação da discussão, abrangendo todo um processo de pós-ocupação. Projetos maravilhosos foram apresentados. Muitos deles já superaram mais de uma década de existência. Isso desperta uma reflexão sobre como estão funcionando essas edificações recuperadas e como está funcionando o rebatimento dessas edificações no seu entorno imediato e nas políticas das cidades”, ponderou Janot.
 
O novo presidente do IAB-RJ, Pedro da Luz Moreira, também sublinhou questões importantes discutidas no seminário “O Centro do Rio: ambiências e patrimônio urbano”:
 
“Precisamos pensar em como podemos pulverizar essas iniciativas, com independência ao poder público, para que isso se torne um processo virtuoso e a gente consiga um número razoável de recuperações. É preciso também que se garanta uma sustentabilidade, no longo prazo, para que os novos usos dentro desses imóveis consigam preservar a restauração”, explicou Pedro da Luz.
 
Antes do término do evento, Sérgio Magalhães disse que as cidades estão sendo administradas por uma ideia que não interessa mais a sociedade e criticou o modo como elas estão sendo gerenciadas:
 
“São os advogados que estão regulando a vida arquitetônica e urbana contemporânea. Eles são formalistas no tempo anterior. Uma vez formalizada uma ideia, eles defendem como sendo a própria essência das coisas. Porém, as coisas mudaram. O arcabouço jurídico que vigora é, infelizmente, defendido pelos procuradores. O nosso esforço é maior que fazer o edital da prefeitura ir para frente. Essa é uma tarefa que resume um esforço de reposicionar a ideia de cidade na própria cidade. Isso deve se dar com a estreita participação do coletivo”, defendeu Magalhães.

(Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

Fonte: http://www.iab.org.br/noticias/evento-do-iab-rj-apresenta-configuracao-do-centro-do-rio-expandida-para-zona-sul
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