
A Maloca é massa! É uma mexida num lado da Cidade que anima o espírito perturbado pela violência e outras mazelas. Uma necessidade de festa, de discussão de outros rumos, de um entrançado bom de gente na contramão da individualidade.
Mas ainda alimento um sonho expandido da “refavela”. Uma Cidade que não seja tão pendente pra esses lados. Apenas engordadora do espírito Aldeota. Esse sentimento do inconsciente de que as intervenções boas, de qualidade, só devem acontecer nessa banda da urbe.
No máximo transborda para o Benfica ou traça uma linha até a fronteira com Unifor e seus muros de Fundação. Vai à Praça do Ferreira, é verdade, em nome de um espaço de misturas de araque.
E, com muita peleja, mingua para o Centro Cultural Bom Jardim. Mais por compensação do que insistência, mesmo, de fincar um território contra a cultura da mortificação da dignidade dali, das pessoas e da cultura que elas decidirem potencializar.
Quem está aqui, imerso no sentimento Aldeota, pensa muito com a cabeça de quem vive aqui. E que bom, isso não é defeito. Pode ser apenas uma deficiência que enjambra o corpo da gente. Guenzo só pra banda de cá da Cidade. A outra é morta.
Falo assim, mas também estou atolado nesse sentimento. Há muito sai da Tavares Iracema, onde morei bastante e vim para a Praia de Iracema e, depois, Aldeota. Há muito deixei a farda e parei de rodar por todos os buracos da Cidade.
Há muito deixei de ser galego no Bom Jardim, no Bom Sucesso, no Santa Cecilia, no Conjunto Esperança… Há muito deixei de ser estudante de comunicação e não sei mais o que é o cotidiano da rádio comunitária Oscar Romero, no Palmeiras.
Mas ainda reporto a Cidade que o jornalismo tenta atravessar. É pouco, mas é muito também. Não sou o prefeito que tem na ponta da língua o nome da rua ou da travessa na periferia, mas ainda sinto as Cidades de Fortaleza.
A Maloca, meu sonho, era vê-la descer para o Grande Jangurussu, Gilberto Gil, no Cuca de lá. Ou da Barra ou do Mondubim. Ou nos mais de 20 Cucas que a Prefeitura e Estado já deveriam ter se juntado para construir onde o pau canta.
Conversando com um amigo querido, ele me falou que provavelmente o José Mujica virá para Fortaleza e me perguntou para onde levá-lo. Para o Dragão? Sim, certeza.
Mas também para a Barra do Ceará, a Messejana, o Serviluz, o Pirambu. O fôlego dele é quem manda e não podemos deixar que não virem contaminação as palavras dele nesse “outro mundo” também…
Olhe, tem uma banda da Cidade que poderia usufruir da brincadeira da Maloca e de outras ideias revolucionárias. Lá existe gente revolucionando também. Está cheio de coletivos fazendo contraponto à cultura da morte. Inspirando pivete a ser poeta e não faccionado.
Como as histórias não chegam lá, esse povo até tenta vir pra cá pra ouvir o Gero Camilo cantando Belchior. Mas não tem ônibus nas altas horas pra voltar pras quebradas. E os motoristas da madrugada têm medo da negrada… Que, provavelmente, vai levar um baculejo da polícia.
Pensar com o sentimento Aldeota não é defeito, desde que o Gereba também seja ocupado com a refavela da Maloca. Lá é perigoso? É, mas tem de deixar de ser. Vizinho ao Gereba tem um Cuca. E tem um CFO e tem um Castelão que insistem em não se integrar aos bairros dali…
Vida longa à Maloca que foi ao Poço da Draga. Ainda não foi uma revolução, mas é uma possibilidade. E tome Fortaleza: todinha. Até o talo e na tora se preciso for!
FONTE: O POVO