Para Romeu Duarte, Fortaleza ainda tem que descobrir sua vocação em termos de arquitetura e urbanismo. Defende que buscar na cultura referências de quem somos é o primeiro passo para construir o futuro
 
 

Professor do Curso de Arquitetura da UFC, Romeu Duarte Júnior é um acadêmico que não habita apenas os campi. Ele está nos bares, nos ônibus, nos táxis, na rua. E é nela onde residem os maiores dramas da cidade. Para Romeu, cuja tese doutorado na USP, defendida há dois anos, foi sobre sítios históricos brasileiros, a partir do caso de Sobral (CE), de uns tempos para cá os domínios entre a casa e a rua ficaram rigidamente definidos. “Um divórcio completo”, como diz, e cujo espólio principal é a insegurança. Ele defende que a Prefeitura tome à frente na mediação entre os interesses das empresas que erguem e destroem coisas belas e o cidadão ávido por espaços para conviver. Neste entrevista em plena efeméride dos 289 anos de Fortaleza, ele lembra do passado da Capital, discute o que pode ser feito hoje e oferece reflexões para que dias melhores venham.

 

O POVO – Que cara Fortaleza adquiriu nos últimos anos?
Romeu Duarte Júnior –
Para responder esta pergunta temos que mergulhar na nossa história, na nossa cultura e não nos envergonhamos de quem  somos. Porque a cultura é quem vai dizer o que Fortaleza e Ceará são do ponto de vista da arquitetura e do urbanismo. Para darmos esse ponta pé para qual Fortaleza queremos construir, nesse Estado com tantas adversidades, com uma rede urbana tão débil, vai partir do reconhecimento das nossas fraquezas e fortalezas. Então, vamos ter condições de produzir uma arquitetura que reflita nossa essência e nos coloque na contemporaneidade. Pela via da macaqueação jamais seremos notados.

OP – A macaqueação empobrece em qualquer área, seja na música, na literatura ou na arquitetura, por exemplo. O que explica a cidade não ter uma personalidade bem definida na arquitetura?
Romeu –
Eu acredito que pela dificuldade de nós nos reconhecermos. De nós conhecermos a essência do Ceará, a essência de Fortaleza. Como fui criado na rua, nasci em Belo Horizonte, mas fui criado na Base Aérea de Fortaleza, então, a gente era criado como bicho solto e foi o momento de conhecer Fortaleza naquela coisa de subir no muro para chupar manga. Era um momento em que Fortaleza era uma cidade muito agradável de circular, diferentemente de hoje. Este estado guarda uma riqueza, uma  série de valores na nossa cultura material e imaterial que poderiam presidir um processo de construção de uma nova arquitetura, de um novo urbanismo. De soluções espaciais mais simples, mas não menos  expressivas. Passa por essa questão do reconhecimento. Partir da história.

OP – Quais as referências que o senhor enxerga na cidade?
Romeu –
Eu vejo de uma maneira muito preocupante quando você faz uma arquitetura que é vidro para todo lado. Estamos nos transformando em viciados em ar-condicionado, com determinados elementos de comunicação visual e de formas que não têm nada a ver com a gente. Hoje, a coisa que move a cabeça da construção aqui no Ceará parece ser Dubai, com seus desafios em termos de estrutura e altura de edifícios. Será que é por aí que a gente deve ir? Poderíamos pensar em uma situação de maior simplicidade. A experiência do edifício multifamiliar residencial no Ceará é a nossa marca. Mas eu acredito que esta produção poderia traduzir mais,  de maneira contemporânea, esta maneira despojada de nós cearense vivermos. Foi assim  que os pernambucanos, nos anos 1960 e 1970, quando eles construíram a escola pernambucana contemporânea de arquitetura, eles procederam. Eles trabalharam com informações da escola carioca, que por sua vez já  tinha bebido ns águas do Le Corbusier (arquiteto francês, um dos mais importantes do século XX). O Borsoi (Acácio Gil Borsoi) era carioca e que foi para Recife. Ao mesmo tempo era ligado à cultura  popular, ao artesanato, à cultura armorial. E ele traz isso para  a arquitetura dele. O cobogó, o elemento vazado, a cor, as texturas. Nós aqui andamos esquecendo um tanto. Queremos ser cosmopolitas e contemporâneos esquecendo um pouco  as nossas raízes.

OP – E qual a relação do Curso de Arquitetura da UFC com isto?
Romeu –
Olha, eu acho houve um determinado momento em que você ia direto na escola de arquitetura e as referências estavam lá. Liberal de Castro, Roberto Castelo, José Nasser Hissa, José da Rocha Furtado. Então, houve um momento em que essas influências se encontraram no sentido da possibilidade de se criar uma escola cearense de arquitetura, um brutalismo cearense do concreto aparente, dos materiais brutos, da explicitação de volume da estrutura. Nós quase criamos uma arquitetura que se dizia do nosso interesse, mas a coisa não se encaminhou. Não conseguimos construir pela via da cultura, do patrimônio, uma arquitetura que fosse a nossa cara, que nos expusesse tanto do ponto de vista telúrico quanto contemporâneo.

OP – A cidade se verticaliza e quem anda na rua em área de bairros como Meireles e Aldeota são os pobres. A classe média evita. Ao mesmo tempo, sabemos que Leblon e Ipanema, no Rio, são celebrados como agradáveis porque têm gente na rua. Quem vai mudar isso?
Romeu – 
Sim, a cidade, de uns tempos para cá, tem domínios entre a casa e a rua rigidamente definidos. Há um divórcio completo. Eu acredito que quem poderia implantar novos modelos, novas propostas de mediação entre o público e o privado, e não apenas no Meireles, na cidade inteira,  a partir da realização de concursos, do enfrentamento de situações problemáticas pela via do projeto, é a Prefeitura de Fortaleza. Mediar os  interesses do grande capital e do interesse das pessoas. Vivemos numa cidade que não tem muitas opções de espaços agradáveis nesta cidade. Na Escola de Arquitetura nós estudamos todo o tempo. Há muitas ideias de professores e alunos neste sentido de tornar mais transparente a relação público e privado. Ter não só calçadas ajardinadas, mas acessíveis. Que quem está dentro do condomínio veja quem está fora. Os olhos da comunidade tomam conta da rua. A cidade é perversa, com plano diretor que precisa ser refeito, com Código de Posturas com quase 30 anos. Juntar Academia e Prefeitura renderia boas ideias.

OP – E a propósito, nada muda se  a classe média não está à frente. O senhor acredita que ela vá mudar isso?
Romeu –
A classe média em Fortaleza ela sempre foi um motor de transformações positivas. O que é que é o Pessoal do Ceará se não a classe média de Fortaleza? Fagner, Belchior, Ednardo, Fausto Nilo, Augusto Pontes. Os movimentos intelectuais, os movimentos literários, todos eles são egressos da classe média. Agora, uma cidade que de uns tempos para cá entra em um processo de recolhimento, de preocupação extremada, de abandono dos espaços que frequentava, por também desenvolver sociabilidades cada vez mais individualizadas, que a retiram do espaço público, que não a impelem a viver em sociedade. Por exemplo, eu sou do tempo do pessoal que fazia compra em feira, em mercado, talvez por uma questão de você não ter acesso a um produto de qualidade mais garantida, você hoje faz compras em outros lugares mesmo pagando um pouco mais caro. E aí como faz? Você abandona um espaço como esse que aconteciam em praças, na proximidade de praças, áreas públicas, para você entrar num lugar como no caso de shoppings, em um centro de compras em que o consumo é obrigatório. Mas lá você se sente segura, tem uma temperatura mais agradável. A rua desaparece.

OP – Restaram poucos espaços de sociabilidade em Fortaleza. Como aproximar as pessoas do que há?
Romeu –
Vivemos numa cidade que não tem exemplos felizes, são muito poucos, de espaços públicos de boa sociabilidade. Contamos nos dedos de uma mão só os espaços que são agradáveis. No mais das vezes, estamos sendo expulsos cada vez mais. Porque além dos espaços não serem desenhados em termos de qualidade, não temos segurança necessária nos espaços que são ganhos todos os dias pela violência. Outros espaços não foram pensados para serem de permanência de pessoas foram transformados pela falta de espaços públicos de qualidade.

OP –
E a ocupação é determinante para a segurança da rua…
Romeu –
Exatamente. Os olhos da comunidade, inconscientemente, tomam conta do espaço público. Mas o uso dele mudou muito, da mesma maneira que as sociabilidades. Fico triste quando chego a um lugar e vejo todo mundo no celular ou tablet, numa realidade virtual.  A classe média está trancada dentro de casa pelo receio de ir à rua. No caso de uma cidade em que a população renuncia ao direito de ocupar os espaços, sabemos muito bem quem irá ocupá-los, inclusive, de uma maneira preocupante.

OP –
O que se pode fazer para as pessoas irem para a rua?
Romeu –
Eu acho que esse tempo que a Prefeitura marcou com as bicicletas, fez com que muita gente que não andava, andasse de bicicleta. Desse êxito poderiam ser tiradas algumas lições de como usar mais os espaços. O passeio público, por exemplo, até pouco tempo era um lugar estigmatizado. Hoje ele é super utilizado. Então, são essas iniciativas  que precisamos pesquisar e estimular porque elas oxigenam Fortaleza. O Carnaval foi isso. Ele deu uma prova de vitalidade de poder tremendo desde o Pré-Carnaval. São lições que a gente recebe e que podem ajudar a construir uma cidade mais inclusiva.

OP –
Qual o papel do mercado na construção de uma cidade melhor?
Romeu –
Essa é uma coisa que eu acho que tem a ver com planejamento, que tem que considerar a presença de todos esses entes. Como  vou ter ao meu lado o setor empresarial? O setor empresarial, industrial, tem interesse de criar indústria de transformação no interior do Ceará? Se tem, onde é que tem interesse de fazer? Onde eu vou criar investimentos ou estímulos para localizar esses equipamentos? O papel do Estado é estimular e criar situações amplas. Não dá certo esperar que a parceria do mercado se desenvolva a partir do desenvolvimento de estímulos. O mercado vai onde tem concentração de recursos e investimentos. Ele não trabalha induzindo, ele trabalha a partir de uma indução. nNão estou fazendo nenhum tipo de proselitismo político., mas saúdo o que a Luizianne (Lins, ex-prefeita de Fortaleza, de 2005 a 2013) fez, colocando um Cuca na Barra do Ceará, numa cidade que você tem equipamentos de lazer e cultura preponderantemente na Zona Leste da cidade. Quando você coloca um equipamento como esse, você obriga as pessoas a irem para lá. Você reequilibra o prato da balança. No Centro, por exemplo, qual foi o último investimento imobiliário que foi feito em larga escala?

OP –
Ainda há chance para o Centro?
Romeu –
Tem demais. Há diversas oportunidades de investimentos. Agora, é preciso que a gente determine essa vocação. O Centro da cidade, por exemplo, é um lugar interessante para você implantar universidades e faculdades. Se você colocar gente trabalhando lá de manhã, tarde e noite, gente vai querer morar lá perto, vai chamar comércio de melhor qualidade, ou outros tipos de serviços. Uma coisa que me causa espanto é você ter em Fortaleza seis Secretarias Executivas Regionais que são apenas locais para colocar quem não conseguiu ser vereador. Qual a contribuição em termos de planejamento que essas secretarias dão à Prefeitura?

OP – O senhor pode dar um exemplo do que poderia ser feito nos bairros pelas regionais?
Romeu –
A Regional VI, por exemplo, naquela região ali da Messejana, ali é o centro daquela região. Lá tem um potencial paisagístico fantástico. Mas como você organiza a feira da Messejana? É um comércio feito de uma maneira completamente irregular. Da mesma forma é aquela balburdia organizadíssima da rua José Avelino (Centro). Não  mexemos com ninguém ali que seja coitado. Rola uma grana tremenda, uma sonegação de impostos absurda. Tem espaço para todo mundo trabalhar, mas de forma ordeira. Resolveria, talvez, com alguém que chegasse a gerenciar essa cidade com coragem de fazer alguma “maldade”.

OP – Que tipos de  “maldades”?
Romeu –
Olha que maldade: você disciplinar a feira da José Avelino e da Messejana. Acabar com aquele descalabro que é a feira da Parangaba, que ocupa uma orla de lagoa inteira. Ali era o Parque da Parangaba, era um espaço público que foi construído em 1979. Hoje é uma feira de carros, de animais. Ali se vende até gente. Tem que aplicar a lei e fazer projetos. Outra maldade: por que nós temos que conviver com o estaleiro ali até hoje?  Se aquele estaleiro saísse dali (Inace), a cidade se comunicaria com o mar. Você poderia ter ali uma marina pública, com uma grande praça voltada para o mar.

OP –
O que o senhor pensa do projeto de adoção de praças pelas empresas?
Romeu –
Eu acho uma situação interessante. Mas, hoje, o estar no lugar público não é somente o banquinho, o jardim. Há outros requisitos. Há outros programas que podem ser envolvidos nesses locais. Você vê uma praça ali da Bárbara de Alencar, que fica ali na avenida Heráclito Graça, perto do Ginásio Paulo Sarasate (adotada pela Noves Engenharia). Você pode passar por lá e tem uma quadra de basquete, uma de areia. Tem gente lá todo tempo praticando esporte. Essa seria uma saída para a cidade. O esporte socializa, abre perspectivas, cobra, disciplina a pessoa. A gente vê hoje aquele calçadão da Monsenhor Tabosa. Às 18 horas as lojas fecham e ele se transforma em um playground do esporte radical. Isso é interessante porque é uma subversão da destinação do espaço original.

OP – Os lugares vão adquirindo novos perfis. A Praia de Iracema de zona boêmia virou espaço de convivência para famílias.
Romeu –
Eu conheci a Praia de Iracema, quando era um misto de boêmia com residências. Havia essa coisa que era muito agradável, uma escala bucólica, por volta da década de 1970, 1980. Com o governo do Juraci Magalhães, houve a implosão do sistema público de Fortaleza, porque ele foi o responsável por ouvir somente a sua voz e de mais ninguém. Ele entendeu que a Praia de Iracema era o playground da Cidade de Fortaleza. A Praia de Iracema, que era um lugar antigo da cidade, se transformou em um simulacro dela mesma. Você encontra ali aquela coisa que só começa a funcionar às 18h e só para às 4h. Durante o dia não há um pé de pessoa em lugar nenhum. Se você cria incentivos fiscais, no sentido de você levar para lá uma faculdade, você cria em torno habitação, comércio,  serviços. Você somaria usos distintos ao uso da festa. Mas não houve essa inteligência, esse tipo de sensibilidade. Onde você mora, onde você trabalha, onde você faz comércio, onde você tem serviço à sua disposição, onde você tem lazer, onde você se encontra com as pessoas. Isso misturado é que faz com que as coisas deem certo.

OP – No mundo inteiro ninguém conseguiu fazer cidades com qualidade de vida sem rigor pelo Poder Público.
Romeu –
Tem que ter rigor, mas tem que ter projeto. E quem faz esses projetos tem que conhecer a cidade, saber ouvir o que as pessoas têm a dizer, o que elas querem. Esse negócio de fazer plano diretor baseado em taxa, índice, porcentagem, isso é uma maneira abstrata de enfrentar o problema na cidade. Você tem que conhecer a cidade bebendo nos botequins, conversando com as pessoas, andando de ônibus, a pé, frequentando os pré-carnavais. O mais triste é que tem problemas na nossa prancheta há 50 anos e não resolvemos por falta de ousadia, vontade política.

OP – Fortaleza ainda é uma cidade agradável de viver?
Romeu –
Ela é porque tem um povo que é magnifico. O povo talvez seja a melhor coisa que essa cidade tem. É um povo acolhedor, um povo alegre, um povo que gosta de tirar sarro com a cara das pessoas. É um povo que é irônico. Eu acredito que é exatamente por isso, pela maneira como as pessoas recebem que ela é boa de viver. É diferente quando você vai para Recife. Lá você tem aristocracia. O cearense é um povo só. Agora, incrível como a gente não consegue aproveitar nossa cultura urbana para  criarmos uma cara em termos de arquitetura e urbanismo.  Aí é que está a esquizofrenia. Você é de um jeito e você age de outro. O cabra que come buchada, toma cachaça, mas o desenho dele é de Dubai. Poderíamos explorar  o turismo para destacar a nossa cultura, a nossa gastronomia, as nossas festas e as nossas atividades.

OP – Aponte cinco lugares que são referência para o senhor em Fortaleza.
Romeu –
Tem a Volta da Jurema. Um lugar muito bonito e de grandes lembranças. Gosto muito do lugar ali onde eu trabalho, no Benfica. Lá tem uma bela cobertura arbórea, com vistas alongadas, grandes perspectivas, aquele espaço ali da Reitoria da UFC. Aquela área do Colégio Militar de Fortaleza, pelas mesmas razões. São poucos os lugares em que você tem essa sensação de grandeza. Um local que tem um potencial muito grande é a Praça José de Alencar. É um lugar muito interessante, mesmo com todos os maus-tratos que ela sofreu. É um lugar que precisa passar por um processo de requalificação urgentemente. Tem também a Praça Clóvis Beviláqua, ali da faculdade de Direito, que hoje está entregue ao Deus dará.

OP – Se um turista viesse para cá, para onde você o levaria?
Romeu –
O levaria ao Mercado São Sebastião, para conhecer a feira de Messejana. Fico imaginando aquela feira recuperada e perfeitamente disciplinada. Como seria interessante você juntar a feira com a lagoa. A lagoa com um paisagismo que as pessoas pudessem frequentar sem medo, porque, em determinados momentos parece que você está em uma selva. Como eu gostaria de levá-lo ao Centro com aquelas fachadas recuperadas, com atividades acontecendo. Você pega aquele trecho da rua Floriano Peixoto, vindo da praça do BNB (Banco do Nordeste do Brasil) até o mar. Ali você conta a história de Fortaleza pela arquitetura dos prédios. Outro lugar é o Jardim do Palácio do Bispo, que ninguém pode entrar mais lá. O espaço foi ocupado pela administração. A própria Cidade da Criança. Se vocês passarem naquele Natal de Luz que eles fizeram lá, é fantástico. A Praça da Igreja do Rosário, transformada em um sebo, o que é um absurdo. Um lugar lindíssimo que poderia ser mais valorizado, mas precisa de disciplinamento.

OP – Diante do cenário, que Fortaleza o senhor espera no futuro?
Romeu –
Hoje a cidade é extremamente densa e desigual. O que deixa a gente preocupado. Será que a única maneira de alguém se sentir bem no Ceará é vivendo, morando, em Fortaleza? É como se eu só tivesse saída vindo morar aqui. Nós temos que ter condição de criar cidades médias com vocações bem definidas nesse Estado, com regiões de influência. Temos uma cidade com quase 2,7 milhões de habitantes, com a Região Metropolitana que já vai para 21 municípios. Se alguém corta um dedo em um lugar desses vai todo mundo para o IJF (Instituto Doutor José Frota). Ou seja, é a prova da falta de autonomia desses municípios. Nas exceções você já tem Crato, Barbalha, Juazeiro e Sobral. A Universidade Federal do Ceará (UFC), por exemplo, deu um pontapé diferente com ampliação da rede física dela em Russas, Quixadá e, em breve, em Crateús. A implantação de uma universidade, de uma faculdade grande, é uma vitamina fantástica para esses espaços se tornarem qualificados.

OP – O que o senhor deseja para essa cidade que chega aos 289 anos?
Romeu –
Além de desejar felicidades e sucesso, eu acharia muito bom que ela encontrasse uma vocação. Essa Cidade precisa desesperadamente definir uma vocação que esteja para além de ser uma referência nesse turismo que até agora não tem se mostrado para nós interessante. Fortaleza será uma cidade de serviços esmerados, será uma cidade de referência na área da saúde, na área da educação, que é central, na indústria da transformação, no turismo de convenções. Temos áreas em Fortaleza que esperam uma vocação aberta. Nós não podemos mais aguentar uma situação de ver a Praça José de Alencar sendo ocupada por mucambos, como está sendo agora, ou servindo aos andarilhos. Assim como a Praça do Ferreira, funcionando como hospedaria de miseráveis, como todas as praças do Centro.

 

 

Fonte:Opovo