Deixar o carro em casa e seguir para compromissos pedalando é medida que melhora a mobilidade urbana e responde ao medo ocupando a cidade.
Andar de bicicleta pra mim, antes de tudo, é sim uma atitude de enfrentamento dos medos. Esperar que as ruas fiquem seguras pra que você possa caminhar ou pedalar não faz sentido algum”. O “ensinamento” é da arquiteta Laura Rios, de 33 anos. Todas as quintas-feiras, ela deixa o carro em casa e coloca a bicicleta para trabalhar. Pois não será esvaziando as ruas, parando de conviver por temer qualquer intercorrência, que acabaremos com a violência. “A ilusão de que andar em um carro de vidro fechado com película fumê te deixa mais seguro é totalmente destruída. Quando você passa a andar de bike, absolutamente nada pode garantir sua segurança: seja carro, Polícia, armas ou câmeras. O que garante a segurança é a relação entre as pessoas, o contato e o respeito, estabelecidos na busca da igualdade e da relação de confiança mútua”, diz Laura.
Para a arquiteta, andar pela cidade em bicicleta ou a pé pode ser uma atitude “mais transformadora do que se imagina”. “Antes de qualquer discurso como arquiteta sobre o benefício da bike pra cidade, sei que é muito mais relevante o benefício que causa em mim como pessoa. É nisso que acredito e, por isso, volto parte do meu trabalho hoje a projetos que estimulem o uso da bike”, comenta.
O analista de informática Lucas Landim, de 30 anos, também inseriu a bicicleta ao cotidiano. A vê como uma “quebra de paradigmas” – os coletivos e os próprios. Primeiro, Lucas trocou o ônibus pelo caminhar; e, em 2008, passou a usar os pedais para ir e vir. Hoje, preside a Associação dos Ciclistas Urbanos de Fortaleza (Ciclovida) e percorre, diariamente, cerca de 10 quilômetros de Fortaleza pedalando. Sem medo. “Sinto mais medo da violência usando o carro que a bicicleta. Fico mais nervoso no carro porque na bicicleta eu sei que posso me safar”, afirma. Ele reconhece que o meio de transporte tem problemas (“como qualquer outro meio de transporte”), mas que vale pela integração cidadão-cidade. “A desertificação da rua é que está provocando essa reação na população. Eu não me sinto inseguro nunca porque quem anda de bicicleta desenvolve outra percepção. Sem contar que você tem muito mais tempo pra ver as coisas. Você consegue ver o céu”, comemora. (Mariana Lazari)
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Ocupar para inibir
É preciso incentivar a ocupação dos espaços públicos porque isso “inibe a ação criminosa”, aponta o arquiteto José Otávio Braga. “A ‘praça do Ceart’ (oficialmente Luiza Távora) foi reformada há alguns anos e tem vida enorme. Se o poder público incentiva a criação e cuida do espaço, as pessoas lotam”, lembra.
“O medo deve servir apenas como um termômetro, indicador de que algo está errado”, reforça o pesquisador do LEV,
Geovani Jacó.