O acampamento se mantém há 27 dias com doações e arrecadação de dinheiro nos semáforos. Manifestantes negam intransigência e dizem que têm apoio da população, mas cenas de hostilidade são constantes.
Um projeto alternativo aos viadutos do Cocó, que não avance em um milímetro sequer na área do Parque, é o denominador comum entre os manifestantes que há 27 dias estão acampados no local, para tentar impedir as obras da Prefeitura de Fortaleza. Cerca de 300 pessoas, com idade de 16 até 83 anos, estariam engajadas ao movimento – dessas, 40 dispostas a ficar todos os dias. Questionados pelo O POVO sobre qual a condição para o fim da ocupação, houve divergência entre alguns dos presentes. Ainda não parece haver total clareza sobre o que exatamente os fará voltar para casa.
Bastante heterogêneo e sem líderes definidos, o grupo inclui estudantes, agrônomo, geógrafo, ex-policial, surfista, artistas, aposentados, pessoas de partidos ou sem identificação com legendas, entre outros perfis que se revezam entre as obrigações diárias e o alojamento. Alguns possuem histórico de militância nas áreas ambiental e urbanística, outros aderiram à “luta” após a onda de protestos deste ano.
Com o passar dos dias entre as árvores do Cocó, a lista de reivindicações ficou mais extensa. Entre outros pontos, os manifestantes demandam mudanças na lógica de mobilidade urbana do Governo e da Prefeitura, com obras que deem mais atenção a pedestres, ciclistas e transportes coletivos, e a legalização do Parque do Cocó, requerida pelo Ministério Público Federal e prometida pelo governador Cid Gomes (PSB) na visita surpresa feita na última segunda-feira.
O grupo reconheceu a necessidade de desafogar o trânsito entre as avenidas Engenheiro Santana Júnior e Antônio Sales, mas sustentou que há opções além do viaduto. Perguntados se não estariam tentando impor opiniões de forma intransigente, conforme vem apontando defensores do viaduto, os manifestantes alegaram que possuem respaldo “Eu sinto que a maioria das pessoas apoia o movimento”, afirmou o professor Fábio Ferreira, da rede estadual.
Estilo de vida
Tal apoio, no entanto, coexiste com a hostilidade. No período em queO POVO esteve no Cocó, entre 15h30min e 18h de ontem, foram vários os motoristas e passageiros que gritaram “vagabundos”, “desocupados” e “vão trabalhar” para os manifestantes. No mesmo intervalo, no entanto, houve doações de água mineral e comida.
Segundo os ocupantes do Cocó, as doações chegam por meio de moradores do entorno, de anônimos que passam pelo acampamento e dos próprios envolvidos, incluindo vereadores. Eles também fazem “pedágios” periódicos nos semáforos, pedindo dinheiro para o movimento. “Em meia hora a gente consegue levantar R$ 100,00”, disse Rafael Lima. Segundo ele, é possível se manter com R$ 70,00 por dia.
Fonte: Jornal O POVO.