
O auditório do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Ceará (Crea-CE) ficou lotado, na noite da última quarta feira, 23, no primeiro Arquitetura e Urbanismo em Debate, iniciativa do Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento do Ceará (IAB-CE) que reuniu arquitetos, estudantes, lideranças sociais, autoridades e cidadãos de Fortaleza. Nesta primeira edição, o assunto foi o projeto Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) ramal Parangaba-Mucuripe, de responsabilidade do Governo do Estado por meio da Companhia Cearense de Transportes Metropolitanos (Metrofor). A apresentação do projeto ficou a cargo do arquiteto Edilson Aragão, diretor de gestão empresarial e planejamento da companhia e segundo secretário do IAB-CE.


Edilson esclareceu que já existe um diálogo entre Governo do Estado e Prefeitura (executora do projeto da Beira Mar) para relacionar os dois projetos. O estudante de Ciências Sociais Mateus Alencar fez duras criticas à forma como os chamados megaeventos esportivos costumam tratar as populações pobres das suas cidades-sede e defendeu maior transparência e participação social nesses projetos. Ele sugeriu que o projeto VLT contemple soluções de novas moradias nas circunvizinhanças para as famílias afetadas.
Próxima edição – O evento Arquitetura e Urbanismo em Debate ocorrerá na última quarta-feira de cada mês. Na próxima edição, no dia 30 de março, será discutido o projeto do Centro de Feiras e Eventos do Ceará. Na opinião do presidente do IAB-CE, Odilo Almeida, o debate sobre os grandes temas e projetos estruturantes abre um novo canal de reflexões sobre o planejamento e ocupação territorial, permitindo que a sociedade civil e os arquitetos formulem opiniões que interfiram e aprimorem as decisões de governo.
Possibilidade de remoções causa polêmica
O VLT Parangaba-Mucuripe levanta polêmica por conta da possibilidade de remoção de famílias que habitam hoje a área localizada às margens da Via Expressa. A presidente da Associação Comunitária do Rio Pardo, Francisca Ferreira da Cunha, disse que veio ao debate para saber como ficará a situação das famílias. “Sou a favor do VLT, mas quero que o povo fique.” Um dos defensores da permanência das comunidades, o vereador João Alfredo (PSOL) distribuiu entre os presentes na palestra artigo de sua autoria em que questiona o projeto. Para evitar a retirada dos moradores, ele propõe solução adotada em Amsterdã, em que o chamado “tram” está instalado na via, circulando junto aos carros. Para Joaquim Cartaxo, ex-secretário das Cidades do Ceará, a comparação com a capital holandesa não condiz com a realidade de Fortaleza. “Toda a população de Amsterdã poderia ser transportada só no metrô que vai para Caucaia”, calculou.
Segundo Edilson, o Metrofor se associa com a preocupação da comunidade. Segundo ele, foi iniciado um cadastro geral das famílias com o objetivo de verificar quais serão afetadas e quais alternativas deverão ser adotadas. De acordo com ele, poderá haver desapropriações, mas boa parte será indenizada (ou seja, terão parte das residências afetadas, mas sem a necessidade de sair do local). Dentro do orçamento geral do projeto, R$ 92,2 milhões serão destinados a desapropriações. “O Governo do Estado não fechou nenhuma porta. Há possibilidade de programar alternativas”, sinalizou.
José Sales comentou ainda que o projeto deveria ter uma dimensão requalificadora para as áreas de sua influência. Para Fausto Nilo, a instalação do VLT não é incompatível com moradias. Romeu Duarte, conselheiro vitalício do IAB-CE, reiterou essa questão e acrescentou que o projeto deve “abrir um leque de alternativas” para que as populações sejam mantidas. “O projeto não é só de engenharia. Tem de contemplar a dimensão social.”