O recente caso da coberta do estádio do Engenhão é apenas mais uma evidência dramática de algo que se sabe há muito: o Brasil é um país avesso à arte e ao ofício de projetar, e essa é talvez a mais clara chaga de nosso atraso.
Como se entende que o governo de um país, com a dimensão econômica do nosso, faça licitações de obras cujos projetos não foram minimamente desenvolvidos e detalhados? Há mais de uma resposta: primeiro, porque o administrador de plantão tem urgência em iniciar a obra que muitas vezes saiu de sua cachola para inaugurá-la ainda dentro de seu mandato – ainda que não esteja pronta! Como o projeto de um grande equipamento pode tomar quase que um mandato inteiro, a solução é simples: licita-se um mero estudo preliminar, e inicia-se a obra com um anteprojeto em que as soluções técnicas para os problemas a serem enfrentados não foram resolvidos – e aí as cobertas caem, as paredes racham, etc. A segunda razão é mais grave: licitando-se um anteprojeto têm-se como decorrência natural os incontáveis aditivos para multiplicação do custo da obra e abre-se a porta para o mundo do desvio dos recursos públicos no Brasil.
Para mudar esse cenário, o governo teria que passar a agir como a empresa ou o cidadão comum, que vai enfrentar a construção de um prédio: encomenda um projeto, faz-se um orçamento e contrata-se a construção, em que qualquer variação acima de 5% da previsão inicial já é um indicativo de que houve ineficiência no projeto ou na realização da obra. Porque o estado brasileiro não consegue fazer aquilo que qualquer pequeno comerciante faz? Porque não há qualquer interesse político. Ou alguém realmente acha que o corpo técnico da Petrobras erraria em 7 ou 8 vezes (e não em 7 ou 8%) uma previsão de custo da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco? A resposta é simples, não havia projeto algum para ser orçado, mas apenas uma carta do ex-presidente Lula, e que ainda combinou com Chavez a encenação de generosos aportes da Venezuela, que jamais ocorreriam. E não é por outra razão que a Petrobras foi destroçada na última década, com o país ainda precisando de mais refinarias e importando gasolina.
Somente quando o estado brasileiro for constitucionalmente obrigado a projetar e orçar todas as suas obras, de refinarias a estádios, de rodovias a centros de feiras e eventos, de hospitais a escolas, de aeroportos a hidrelétricas, poderemos tomar o rumo das nações sérias, que fazem valer o dinheiro suado que é proporcionado pelos contribuintes para o progresso dos povos. É isso, ou esperar que a coberta caia após o jogo, quando todos tiverem saído do estádio.
Jayme Leitão
Arquiteto e urbanista