Casamento é igual a navio: tem tudo para afundar, mas, se bem feito, flutua e dá certo. Já as cidades e a preservação do meio ambiente têm tudo para dar errado, mas, com planejamento e boa técnica, podem dar certo.
Existem caminhos importantes para abordar este tema, como os impactos da construção civil na geração de resíduos, poluição sonora e do ar ou a racionalização de recursos naturais usados na ICC. Opto, entretanto, por abordar o conflito de interesses entre construção civil e meio ambiente e os possíveis arranjos para suas soluções.
Primeiramente é necessário entender que morar em cidades é uma opção. Pode-se escolher morar no campo. Morar na cidade é dividir o espaço com outros, abdicando de direitos em troca de melhores serviços, lazer e trabalho. Outro ponto é aceitar que a cidade é constituída de edificações, é produto da construção civil e nesta escala constituirá sempre agressão ao meio ambiente natural. Outra questão é que o objetivo da cidade é proporcionar qualidade de vida, e para isto o ser humano necessita estar próximo e em contato com a natureza.
Se o conflito é inevitável, é nossa obrigação administrá-lo da melhor maneira possível. Para isto são formados urbanistas.
O problema é que este embate está marcado por duas tendências. De um lado empreendedores e cidadãos comuns que constroem sem preocupações com sustentabilidade, e, de outro, o discurso ambientalista contra todo e qualquer objeto a construir. Entre estes agentes está a gestão pública, lenta em gerar soluções para as novas demandas urbanas e realizando mal sua função de planejamento e controle urbano.
Um fato real foi exemplo da má gestão deste conflito. Alguns anos atrás um empreendedor ensejou construir um Centro Comercial no terreno do 17º GAC, no Montese. Este equipamento descentralizaria o comércio, reduzindo percursos e trazendo mais qualidade de vida para a população. O empreendedor fez tudo à moda antiga, negociando o terreno e aprovando o projeto à surdina. Grupos ambientalistas protestaram devido ao potencial de recursos ambientais que possuía o lugar. Sonhadores de plantão afirmaram que a Prefeitura iria adquirir o terreno transformando-o em um parque. Só que não existem recursos para isto. O edifício não saiu e o povo ficou a ver navios, ou o navio afundando, sem centro comercial nem parque.
Uma gestão moderna teria reunido bons urbanistas, provocado uma discussão honesta entre as partes e buscado uma solução viável. Posso afirmar como arquiteto e urbanista preocupado com a cidade que hoje poderíamos ter um centro comercial, lucrativo e sustentável ao lado de um bom parque urbano, construído e mantido pelo centro comercial sem custo para o poder público.
A solução é, portanto, um setor de urbanismo ágil, moderno e eficiente, fundamentado na boa técnica e capaz de resistir a forças ideológicas e pressões mercadológicas.
*Artur C. Novaes- Arquiteto urbanista, professor, mestre em Administração de Empresas, sócio-gerente da Novaes Arquitetura e Planejamento e pres. da Ass. Brasileira de Escritórios de Arquitetura
Fonte: O Povo Online