A maior evolução foi na dimensão renda e trabalho. Entre 16 regiões analisadas, RMF teve a quarta maior redução, passando da faixa de alta para média vulnerabilidade, mas detém o sexto pior índice do País

Entre 2000 e 2010, a Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) diminuiu em 27,9% seu índice de vulnerabilidade social (IVS) – foi a quarta maior redução entre 16 regiões analisadas pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). A pesquisa, cujos resultados foram divulgados ontem, mostra ainda que, apesar do rendimento, a RMF detém o sexto pior indicador do País.

 

O índice da RMF, considerando os 15 municípios, passou de 0,480 para 0,346 – quanto mais próximo de 1, maior a vulnerabilidade. “Foi uma redução expressiva. Em 2010, estava no limiar da alta vulnerabilidade para uma muita alta. E reduziu para média vulnerabilidade, já se aproximando da baixa”, considera a coordenadora de Estudos em Desenvolvimento Urbano do Ipea, Bárbara Marguti.

 

Para esse cálculo, o Ipea considera 16 indicadores estruturados em três eixos: infraestrutura urbana (saneamento e mobilidade para o trabalho), capital humano (mortalidade, analfabetismo, entre outros) e renda e trabalho (renda per capita, taxa de atividade, por exemplo).

 

Destaques

A coordenadora do Ipea enfatiza que todas as 16 regiões metropolitanas brasileiras analisadas reduziram sua vulnerabilidade social e, das três dimensões, a que mais colaborou foi renda e trabalho. Esse resultado foi acompanhado também na RMF: renda e trabalho tiveram redução de 35,73%, enquanto que em capital humano e infraestrutura urbana as reduções foram de 27,4% e 19,26%, respectivamente. Entre os indicadores, as maiores variações absolutas foram em: taxa de desocupação da população de 18 anos ou mais de idade, percentual de pessoas em domicílios com abastecimento de água e esgotamento sanitário inadequados, e mortalidade até 1 ano de idade.

 

O relatório ressalta ainda que, no ano 2000, os valores mais baixos de IVS situavam-se na porção central de Fortaleza, notadamente em localidades como Meireles, Aldeota, Dionísio Torres e Joaquim Távora. Para 2010, permanecem concentradas em Fortaleza e Eusébio. Na outra extremidade, os valores mais altos de IVS são encontrados na periferia da RM de Fortaleza, distribuídas em quase todos os municípios.

 

Esse diagnóstico foi observado pelo coordenador do Laboratório de Estudos da Pobreza da Universidade Federal do Ceará (LEP/UFC), João Mário de França, como reflexo dos investimentos nos setores analisados no período. “Não só no Ceará, mas em todo o Brasil, houve melhorias na estrutura urbana, com mercado de trabalho aquecido. Mas o fato de ainda ter muitos locais com esse índice elevado mostra que o problema persiste, e o desafio das políticas públicas tem que avançar”, opina.

 

O pesquisador considera, porém, que alguns resultados podem apresentar queda nos índices relacionados a trabalho no próximo levantamento. “Com a crise já projetada para 2016 há tendência de piora em emprego e renda. De 2010 pra 2020 pode até ser que ocorra avanço, mas com taxas menores”, projeta.

 

Saiba mais

 

A vulnerabilidade social aponta a ausência ou insuficiência de ativos, recursos ou estruturas (fluxo de renda; condições adequadas de moradia; acesso a serviços de educação, dentre outros) que deveriam estar à disposição de todo cidadão.

 

Um dos objetivos do levantamento é orientar gestores para o desenho de políticas públicas mais sintonizadas com as carências e necessidades presentes nesses territórios.

 

O IVS é um índice que varia entre 0 e 1. Para os municípios que apresentam entre 0 e 0,200, considera-se que possuem muito baixa vulnerabilidade social; entre 0,201 e 0,300, baixa; entre 0,301 e 0,400, média; entre 0,401 e 0,500, alta; entre 0,501 e 1, muito alta.

 

Para o cálculo, foram considerados indicadores disponíveis na plataforma do Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, gerados a partir dos microdados dos censos demográficos do IBGE de 2000 e 2010.

 

À frente de Fortaleza, as maiores reduções foram na RM do Vale do Rio Cuiabá (31%), Natal (29,6%), e Grande São Luís (28,3%). Os melhores IVSs foram nas RMs de Porto Alegre (0,270), Vale do Rio Cuiabá (0,284) e Curitiba (0,285). Piores: RM de Manaus (0,415), Grande São Luís (0,395), Recife (0,392) e Salvador (0,369) e Belém (0,351).

 

Fonte: O Povo