Como se previa, foi um desastre político a expulsão violenta dos acampados do Parque do Cocó. Os equívocos cometidos pela Prefeitura de Fortaleza e pelo Governo do Estado ganham um volume impressionante e certamente terão consequências políticas.
A precipitação da Prefeitura resultou numa operação eivada de ilegalidades, pois a área está em litígio, segundo o Ministério Público Federal. Além do mais, só a Polícia Federal ou a Polícia Militar (esta com autorização prévia da jurisdição federal) poderia ter atuado naquela área, segundo o procurador da República, Oscar Costa Filho. O show de violência praticado pela Guarda Municipal confirma as apreensões anteriores desta coluna quando da criação da nova corporação. Mais um monstro foi criado na área da repressão, já impregnado do mesmo vício militarista e autoritário, bem longe do caráter cidadão que deve ter uma guarda municipal. Foi uma chance perdida pelos responsáveis para criar uma nova cultura na área da segurança pública. É uma distorção da qual a administração municipal passada tem parte da culpa.
DOIS MODELOS
Alguém está esquecido de que o Brasil mudou em junho, não aceita mais nada imposto de cima para baixo. Antes de decidir pela execução dos viadutos do Cocó, não se procurou a obtenção de consenso (não bastam mais as audiências públicas pro forma, que terminam virando um simulacro de debate) num assunto de reconhecida sensibilidade. Foi ignorada menosprezada a opinião de uma parte importante da intelligentsia urbanista. Há um entrechoque entre dois modelos de urbanismo – um fortemente subordinado à pressão do mercado e outro que procura pôr em relevo os aspectos sociais, ambientais e humanos de uma cidade, dentro de uma perspectiva holística. Talvez, os equívocos ainda possam ser corrigidos. Digo “talvez” porque pode ser que as ruas consigam exercer uma persuasão mais forte, como ocorreu no Rio de Janeiro e São Paulo, onde governadores e prefeitos tiveram o bom senso de rever posições. Aqui, a solução certamente está na aceitação da paralisação da obra para a busca de uma alternativa construída a quatro mãos: universidade, entidades urbanistas, técnicos independentes e técnicos do governo, além de lideranças da comunidade. Basta ver a tremenda repercussão alcançada pela nota do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB-CE), que sintetiza o pensamento da diretoria da entidade, dos ex-presidentes e da grande maioria dos arquitetos e urbanistas cearenses. Acatá-la não diminui ninguém, ao contrário, engrandeceria a autoridade que o fizesse.
ASSINATURAS
Ainda é tempo de assinar o projeto de Reforma Política apresentado pelo Movimento Contra a Corrupção Eleitoral e a Plataforma dos Movimentos Sociais, que será apresentado através de lei de iniciativa popular. Basta acessar www.reformapolitica.org.br. É preciso correr para apresentar o projeto ainda em tempo de valer para as eleições de 2014. Nele estão contemplados os mecanismos de democracia participativa. A OAB, a CNBB e várias outras entidades da sociedade civil, juntamente com os movimentos sociais uniram-se para implementar a reforma política desejada pela Nação, mas boicotada constantemente pelo Congresso Nacional. Chegou a hora de os cidadãos mudarem realmente o País.
DESCONCERTO
O escândalo que consome o PSDB paulista (antes mesmo de entrar em pauta o julgamento do mensalão tucano) tem um caráter pedagógico indubitável para quem se acostumou à implacabilidade de certas análises políticas de embevecidos “Catões” da República. As cifras são astronômicas, como sempre acontece quando gente grande é flagrada em “malfeitos” (na linguagem dilminiana). Gente grande é outra coisa. Não é páreo para amadores. Ao seu lado, o alegado episódio da Portugal Telecom (mensalão petista) é um traque, não só em termos de volume financeiro, mas no que diz respeito a provas. O desconcerto que se vê em certas faces só é novidade para quem não leu o livro A Privataria Tucana, do jornalista Amaury Ribeiro Jr., até há pouco tempo listado no índice dos réprobos.
DESGASTE
Não foi apenas o Interior que ficou abanando com a falta de inscrição de médicos no Programa Mais Médico: a cidade de São Paulo, por exemplo, pediu 158 profissionais (o máximo permitido) e só recebeu a inscrição de 15, para trabalhar na periferia. A desculpa da falta de estrutura não valeu nesse caso. Na verdade, não vale para muitos municípios que têm unidades totalmente equipadas e só dependem de médicos para funcionar – inclusive aqui, no Ceará. Enquanto o Estado de São Paulo quer contratar mais de dois mil médicos, os profissionais preferem mesmo ser mão de obra para hospitais e planos privados, ou abrir consultório próprio. Então que venham os estrangeiros. O povo é que não pode continuar sacrificado. Diante da recusa, aumentou o desgaste da categoria médica junto à opinião pública. Esta prefere bater palmas para Dilma, que se lembrou dos desassistidos. Fazer o quê?