Exemplo mais recente foi a não apresentação do projeto de instalação de passarelas nos dois viadutos que serão construídos no entrocamento das avenidas Antônio Sales e Engenheiro Santa Júnior.

 


Grandes obras prometem dar a Fortaleza uma nova perspectiva estrutural, principalmente quanto à mobilidade urbana. Na cidade de 2,5 milhões de habitantes, os 863 mil veículos existentes (até maio) parecem ser os grandes – e às vezes únicos – protagonistas das ruas. Se no passado o pedestre teve seu espaço tomado pela invenção do carro, no futuro, a ausência de ações que o considerem fará de uma simples travessia algo impossível.

 

A deficiência atual é visível e pode ser quantificada: são apenas 64 semáforos exclusivos para pedestres e 12 com botoeira sonora. Sobre a existência de passarelas, a Prefeitura de Fortaleza não soube informar número total e localizações.

A necessidade em dar mais fluidez ao trânsito, embora antiga, tem se mostrado mais aparente com a realização de grandes eventos na Capital, que precisou arrojar-se também quanto aos equipamentos turísticos. Algumas obras que contemplam essas lacunas, entretanto, acabaram atropelando uma das principais definições do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), que prioriza o pedestre como usuário de maior fragilidade.

Exemplo mais recente foi a não apresentação do projeto de instalação de passarelas nos dois viadutos que serão construídos no entrocamento das avenidas Antônio Sales e Engenheiro Santa Júnior. Em 2012, a falta da estrutura de acesso dos pedestres ao Centro de Eventos do Ceará (CEC), numa avenida de seis faixas (Washington Soares), também demonstrou este descaso. Na época, túneis foram construídos para sanar o impacto no trânsito, enquanto a passagem elevada não foi executada. Resultado: duas passarelas provisórias já foram erguidas, apenas após a inauguração do CEC, e a população ainda não se sente segura em utilizá-la. 


Perigo

 

“Olhei, calculei e decidi subir, mesmo com medo da altura”, contou a professora Angelúcia Alves de Melo, 57, que atravessava a passarela em frente ao CEC. Mas a escolha foi difícil, Angelúcia precisou ponderar entre o barulho advindo do equipamento de ferro – que sugere instabilidade- e o perigo da travessia na via. “Subir aqui exige coragem. Tenho medo de passar lá embaixo”.

O medo de cruzar uma avenida assola também a professora Aderlane Cardoso Lima, 25. Todos os dias, ela precisa cruzar a Via Expressa, exatamente no entroncamento com a avenida Padre Antônio Tomás. O trecho receberá um dos quatro túneis do projeto de mobilidade para a Copa do Mundo de 2014 na Via Expressa. “Eu sinceramente espero que tenha uma passarela, porque se não tiver, vai ser como a BR-116, rápida para os carros e perigosa para o pedestre”, opinou.

Fonte: Jornal O POVO.