“Reconhecer a Cidade”. Essa é a expressão recorrente, quando o arquiteto Abner Augusto de Souza, 25, explica o Projeto Walk – Caminha, Fortaleza. Há um ano, movido pela ideia de estimular que as pessoas (re)conheçam Fortaleza caminhando, o arquiteto coloca plaquinhas de PVC pelas ruas sugerindo percursos e dizendo quanto tempo leva em minutos para ir de um ponto a outro da Cidade. “Dar o tempo faz com que as pessoas percebam que não é tão longe assim e elas pensam: por que não ir a pé?”, sugere.

 

“Até o Sobrado José Lourenço são quatro minutos” é o que diz a plaquinha laranja na Praça do Ferreira, uma das 15 espalhadas pelo Centro e Praia de Iracema em pontos cuja beleza e história são importantes para que a população crie laços de afeto com o local. “As pessoas são cada vez mais dependentes dos carros, e nossa cidade está construída dando prioridade a essa lógica. Mas, em alguns momentos, é possível e mais prático deixar o carro em casa, andar a pé e reconhecer sua cidade, redescobrir as ruas, perceber as gentes e os espaços. E tem um ponto muito importante: andar na Cidade ocupa as ruas e diminui a insegurança”, aponta o idealizador do projeto, que também é membro do grupo Direitos Urbanos.

 

Outras duas questões que surgiram com o projeto são o estímulo ao turismo, criando rotas que possam ser feitas a pé e de graça por quem quiser conhecer a Cidade, e a possibilidade de perceber mais profundamente as belezas e problemas de Fortaleza. “Andando você tem outra visão do mesmo ponto. Você percebe que a calçada não tem padronização, que as rampas atrapalham a caminhada e se apodera de argumentos para reivindicar melhorias”, salienta.

 

Seja pela velocidade de ir da avenida Monsenhor Tabosa ao Dragão do Mar, que pode ser maior a pé – a depender do horário -, ou pela ocupação de Fortaleza, o arquiteto acredita que, “acima de tudo, o Walk é um gentileza”. “É uma forma de dar um presente a Cidade e quem caminha por ela. Porque, além de promover novas ideias e formas de melhorar a convivência, é uma forma de agradecer à Cidade por tudo que a gente vive nela”, acredita Abner. (Domitila Andrade)

 

O que você pode fazer para transformar Fortaleza?

É um exercício simples que, muitas vezes, quase não requer esforço: por que não incluir na rotina uma pequena gentileza para a Cidade e quem nela mora? Distribuir bom dia no ônibus, substituir o carro pela bicicleta, fazer pequenos trajetos a pé, cuidar de uma árvore ou simplesmente não deixar que o lixo produzido suje as ruas. 

 

As sugestões são muitas, versam sempre sobre educação e têm um princípio norteador: o respeito à coletividade. É como uma máquina com muitas peças, cujo funcionamento depende do bom azeitamento das engrenagens. E as gentilezas urbanas são o que permitem isso.


Procurando bons exemplos de cuidado com o espaço coletivo há dez anos, desde a criação do prêmio Gentilezas Urbanas, do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-CE), a arquiteta Clélia Carvalho acredita que gentileza é um questão de contágio. “Se você vê um lugar bem cuidado, isso intimida você a sujar. Se uma iniciativa individual ou coletiva é reconhecida, estimula que outras pessoas passem a cuidar de algum espaço da cidade. E isso muda não só o lugar: é uma mudança que acontece dentro da gente”, aponta.

A ideia é compartilhada por Renata Tasca, diretora de Criação da Satrapia, agência de benfeitorias que recentemente instalou em nove pontos público de Fortaleza os Ninhos de Livros. As pequenas casinhas recebem doações de livros para que o hábito da leitura se integre com a Cidade. “O projeto traz o colaborativo para o espaço público. Em cada bem que se faz, as pessoas podem perceber que aquilo ali é de todo mundo, que você pode zelar, cuidar, consertar, porque também é seu. Isso gera uma onda de cuidado com a Cidade”, acredita Renata.


“Gentileza tem tudo a ver com cidadania, e para isso não precisa muito. São pequenas coisas: esperar o pedestre atravessar a rua no sinal, ter paciência no trânsito, vivenciar a Cidade como bem comum”, propõe o arquiteto Abner Augusto Souza, idealizador de projeto que estimula caminhar pela Cidade e ocupá-la.


Afeto com a Cidade

Estar no espaço público e nele conviver é, para a arquiteta Laura Rios, da empresa Estar Urbano, fundamental para que se criem laços de afeto com a Cidade. “Desde que montamos o parklet na avenida Beira Mar temos visto o potencial que é estar na rua. Na rua, as pessoas se apropriam do espaço e automaticamente a afetividade chega”, destaca.

 

Entendendo que cada um é parte importante para as melhorias da Cidade, Laura acredita que as gestões públicas têm seu papel executor, mas são os cidadãos as molas das benfeitorias.


Para a arquiteta, estar na rua ainda é, sobretudo, uma questão política. “Você passa a perceber as ruas com outros olhos, passa a pensar um modelo mais qualificado de relação com Cidade e pode cobrar melhorias com mais autoridade. Porque rua não é apenas pista para carro. Rua é ponto de encontro”, define.

 

Saiba mais


As primeiras placas, com custo médio de R$ 15, foram financiadas pelo Mês da Mobilidade, promovido por grupos como a Associação Ciclovida.


Este ano, novamente marcando o período dedicado a debates sobre a Cidade, no dia 20 novas placas serão colocadas em uma caminhada partindo da Rua Compartilhada, no bairro Dionísio Torres. 


Abner disponibiliza na fanpage do projeto (www.facebook.com/groups/ WalkFortaleza) os arquivos para quem quiser imprimir as placas e colocá-las no próprio bairro.

Fonte: O POVO