A quarta edição do ciclo Seminários de Política Urbana Q+50 foi aberta nesta segunda-feira, em Brasília, com uma mensagem de aproximação entre a discussão do “espaço público”, tema do evento, e as manifestações recentes nas ruas das cidades brasileiras.
Sérgio Magalhães, presidente do IAB, lembrou que é no espaço público que a pujança dos jovens se evidencia, e isso precisa ser valorizado. Ele defende a disseminação da ideia de sustentabilidade urbana. “Há o entendimento de que o que se precisa preservar para as gerações seguintes é justamente a capacidade de a cidade ser o lugar do encontro, da interação e, também, do conflito, das diferenças. Logo, o lugar da política”, diz o arquiteto.
O debate contou com a presença do estudante de Ciência Política e membro do Movimento Passe Livre (MPL) Gabriel Elias, que reforçou a importância do espaço público: “O movimento social não deve ser domesticado. Ele é autônomo e se dá na rua.”
A vaga noção do espaço das ruas como algo público foi discutida pela antropóloga Paula Miraglia, especialista em Segurança Pública. Ele lembrou uma discussão ocorrida durante protesto no Rio entre dois manifestantes: um destruía um poste, e outro dizia que ele estava quebrando um patrimônio próprio.
“De quem é a cidade e como as pessoas se veem donas ou não de sua cidade? Quando alguém não consegue enxergar que é um erro destruir a sua cidade, leva-nos a pensar para quem as cidades estão sendo construídas”, disse Paula Miraglia, fazendo uma associação com obras públicas que ignoram as necessidades essenciais da população. “A gente não pode perder de vista que as transformações que precisam ocorrer nas cidades brasileiras são transformações políticas, baseadas em decisões políticas”, acrescentou.
O advogado criminalista Antônio Carlos Almeida Castro, o Kakay, lembrou-se de questões que mobilizam as cidades-sede dos grandes eventos. “As remoções, por exemplo, deveriam ser mais bem discutidas. Infelizmente, não foram”, disse ele, para concluir. “Se podemos definir um legado do movimento das ruas, não é o caminho, mas o caminhar.”
O presidente do IAB-DF, Paulo Henrique Paranhos, lembrou que o discurso do instituto está alinhado com o discurso das ruas, sobretudo no que diz respeito à habitação e mobilidade, dois dos principais gargalos dos grandes centros urbanos. “O IAB jamais saiu das ruas. Vamos discutir o espaço público como um espaço de cidadania.”
Haroldo Pinheiro, presidente do CAU-BR, reforçou a importância dos concursos públicos na construção de espaços públicos mais democráticos. Ele lamentou que o instrumento não esteja sendo usado de forma adequada pelo poder público brasileiro. “Outros países demonstram que se constroem espaços dignos a partir de projetos escolhidos em concursos.”
O reitor da Universidade de Brasília (UnB) prestigiou o evento, que foi realizado no auditório Dois Candangos, da Faculdade de Educação da UnB. Nesta terça, o Q+50começa às 9h30min, no mesmo local, com transmissão ao vivo via internet.
Promovido pelo IAB, o Q+50 é um evento comemorativo de 50 anos do histórico Seminário Nacional de Reforma Urbana, realizado no Hotel Quitandinha (Petrópolis, RJ), e visa a reforçar decisivamente a agenda política das cidades e das metrópoles brasileiras.
Fonte: www.iab.org.br